Salvador, capital da alegria

Nas minhas últimas férias decidi ir até Salvador. Não foi na época de carnaval, e nem tinha a intenção de curtir o carnaval lá. Queria conhecer o que a cidade tinha além carnaval, ver com meus próprios olhos o que tinha conhecido apenas pelos livros, e na escola.
Uma coisa extremamente chata são os ambulantes que estão pela cidade inteira. Todos tem a mesma postura: te oferecem um presente, uma fitinha do bonfim para amarrar na sua mão, mas praticamente te obrigam a comprar um dos colares e pulseiras por um valor muito mais alto que no Mercado Modelo. Os guias que acompanharam nos passeios que eu fui sempre alertam a respeito. Realmente é um saco, desviar de um e dar de cara com outro, desviar e ter um outro te esperando… e sempre com a mesma abordagem. E fitinha do Bonfim tem de monte lá no Mercadão, dá para levar pra toda a família, amigos, colegas de trabalho, agregados, cachorros e afins.
Comecei pelo centro-histórico e centro-cultural: Pelourinho, Igreja do Bonfim, Mercado Modelo, Elevador Lacerda, Igreja São Francisco, e por aí vai… Caminhando pelas ruas e vielas que levam a esses lugares dá para observar detalhes muito curiosos das construções e casas que tem lá. A cidade é antiga, da época da colonização – primeira capital do Brasil, então algumas de suas construções são muito ricas. Suas igrejas, principalmente. A igreja São Francisco é revestida internamente de ouro, tem azulejos portugueses na entrada e tem uma ‘proteção’ de madeira logo após a porta de entrada que servia para proteger o interior da igreja do vento. Se pensar na idade da igreja é muito bacana ver que todos esses detalhes ainda permanecem conservados. A Igreja do Bonfim também é toda trabalhada por dentro. Algo curioso, muitos turistas amarram fitinhas no portão e na porta da igreja para fazerem pedidos diversos. Não resisti e deixei minhas fitinhas lá também pedindo, entre outras coisas, proteção divina. É curioso andar pelo Pelourinho, ver casas sem portão de todas as cores possíveis e imagináveis; e todas alegres, claro. Andando por lá lembrei do clipe ‘They don’t care about us’ de Michael Jackson (nota 1000 para a participação do Olodum). Quem diria que um dia caminharia pelo mesmo cenário do clipe! Segundo um dos guias, todo o turista que vai a Salvador passa por 3 frustrações: a escadaria da igreja do Bonfim possui apenas 11 degraus (escadaria??), a lagoa do Abaeté que muitos ouvem falar é lenda (a lagoa existe mas não é como diz a lenda) e o elevador Lacerda não é panorâmico. Esse terceiro realmente foi uma grande frustração. A vista do alto do elevador é linda, vê-se o Mercado Modelo e uma parte da orla de Salvador, bem na Baía de Todos os Santos. Mas não se pode descer o elevador admirando essa paisagem. No Mercado Modelo, encontra-se todo o tipo de artesanato cachaça e doces baianos, o difícil é decidir o que levar. Consegui resistir bravamente e levar pequenos objetos para decoração que adornam a minha casa. E ainda ganhei uma legítima cocadinha baiana.
A próxima paisagem são as praias. Salvador tem uma orla bem extensa. Se você quiser passar e conhecer bem todas as praias, gastará alguns dias para isso. As empresas de turismo costumam levar seus visitantes para tomar banho na praia do Flamengo, que fica num lugar mais afastado da cidade em si. Seguindo em direção à cidade, tem-se Itapoã, imortalizada por Dorival Caymmi e Vinícius de Morais. Depois a praia do Rio Vermelho, o ponto onde e feita a festa para Iemanjá, com uma Igreja e a casa de Iemanjá do lado. Como o guia contou, um ponto onde o catolicismo e o candomblé convivem em perfeita harmonia. E tantas outras praias, até chegar à Barra. A orla de Ondina e da Barra já fica bem no meio da cidade. Alguns soteropolitanos que eu conheci lá dizem que é uma praia muito boa para se conhecer, mas durante a semana. Nos finais de semana o povão vai à praia e fica muito cheia. Durante a semana realmente é tranquilo, só tem turista. Depois da Barra, há o Iate Clube, um trecho dedicado aos condomínios do bairro Campo Grande, e a zona portuária.
Para finalizar, paisagens aleatórias. É possível reconhecer o circuito do carnaval nas ruas pela faixa azul que é pintada próximo ao meio-fio. É a faixa que separa quem faz parte do bloco do resto do povão durante o carnaval de Salvador. A zona portuária e a Liberdade (sim, passei lá por perto, e daí), que fica mais na periferia, fora do circuito do turismo. O Dique do Tororó, e sua grande lagoa com os seus orixás. O que restou do Estádio da Fonte Nova, que fica ao lado do Dique. Conheci também o Hotel Tropical, onde as celebridades ficam hospedadas quando vão à Salvador e o prédio em Campo Grande onde mora Ivete Sangalo. Um rapaz paulista que conheci lá disse que chegou a interfonar no prédio pedindo um autógrafo. Imagino que isso deve acontecer todos os dias, Campo Grande faz parte do circuito do turismo… hehehe. Óbvio, o rapaz não conseguiu o que queria.
Na minha percepção, a grande concentração turística gira em torno do carnaval e o resto fica meio que abandonado, uma pena. Um pacote de carnaval em Salvador é muito mais caro do que o que eu gastei nesse passeio de uma semana. No meio do Centro Histórico da cidade, vi uma das casas onde Jorge Amado morou com cercado de obras por conta de restauração com cara de por tempo indeterminado. Vi também uma igrejinha perto da praia do Rio Vermelho que é simples e muito simpática, mas estava precisando de uma boa reforma. Na orla da Barra tem alguns fortes, mas apenas o do Farol da Barra é bem conservado. O lugar pra onde eu viajava nos meus pensamentos durante as aulas de histórias e de literatura possui uma realidade bastante dura, muito diferente daquilo que eu tinha idealizado na infância. O governo, e as celebridades baianas (que não são poucas) deveriam se atentar a esse tipo de coisa. A cidade é muito rica em muitos aspectos e vê-la com seu patrimônio histórico e cultural judiado assim dá dó no coração. E é chato ver alguns pontos turísticos que devem ser visitados com cuidado, como o Dique. Me avisaram para andar atenta por lá, por ser um lugar ‘vazio’ de pessoas e um ponto em potencial de assaltos. Mas como eu poderia ficar sem conhecer os orixás que estão por lá?
A maioria da população de Salvador é negra e possui condições financeiras bem simples. Isso é claramente visível ao circular pela cidade, nas áreas que ficam fora do circuito de turismo. Muita gente lá é bacana com turistas, acredito que já estão acostumados com visitantes de vários lugares do Brasil e o Mundo e, com isso, aprenderam a ser cordiais com todos eles. Naturalmente, existem pessoas de má índole porém, pessoas assim existem em todo o lugar, inclusive do lado da minha casa. Felizmente não encontrei com nenhum deles. Os baianos que eu conheci por lá (exceto ambulantes) foram muito bacanas comigo, pessoal do hotel onde fiquei hospedada, taxistas, vendedor de água de coco, etc. Os turistas nordestinos também são engraçados. No dia que me despedi de Salvador, um grupo de Fortaleza pediu para tirar fotos comigo. A cena foi engraçada, porque estava na sala de espera do hotel esperando o translado, e um grupo me chamou e tentou falar comigo como se eu fosse uma turista estrangeira, falando coisas do tipo “oi, foto, nós”. Pedi que falassem comigo em português mesmo e virou uma festa. Me senti uma celebridade…rs.
Me despedi de Salvador com uma certa nostalgia e uma frase de um taxista ecoa na minha mente até hoje: “Quem vem à Salvador, sempre volta”. É isso aí.

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